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Música que causa avalanches e faz revoluções
A Orquestra Geração anda a tocar desde 2007 para combater o abandono escolar e já conquistou 900 alunos das escolas mais problemáticas da área metropolitana de Lisboa. Esta terça-feira, pela primeira vez, juntam-se no palco do Teatro São Luiz, num concerto único com músicos consagrados como Mário Laginha, Adriano Jordão, Camané, Rodrigo Leão, Carlos Martins ou Celina Pereira.

Qualquer criança pode tocar um instrumento" ou "a música salva".

Concentremo-nos nestas duas máximas. Quando aplicadas à realidade podem-se tornar poderosas. É o caso da Orquestra Geração/Sistema Portugal, criada em 2007 por António Wagner Diniz, diretor adjunto da Escola de Música do Conservatório Nacional, e Jorge Miranda, na época diretor de Educação Cultural na Câmara Municipal da Amadora. A ideia era construir uma rede de orquestras juvenis composta por alunos de escolas problemáticas na área metropolitana de Lisboa para que no final todos pudessem tocar juntos. Partiu de um objetivo simples: "Promover o sucesso escolar em zonas problemáticas através do ensino da música." Nesse sentido a Orquestra Geração não é um projeto musical. É um projeto social. "O propósito não é criar músicos, se acontecer melhor. O propósito é combater o abandono escolar, através da prática da orquestra", sublinha Wagner Diniz.

Promover a concentração e a aquisição do trabalho em grupo através da aprendizagem de um instrumento e transformar a escola num lugar que se quer frequentar pode parecer uma tarefa difícil. Mas o crescimento da Orquestra neste últimos oito anos, prova o contrário e diz-nos que é possível acreditar no sucesso do ensino por via da arte.

Há oito anos, quando o projetou arrancou, participavam 15 crianças. Neste momento, integra mais de 900 alunos e abranje 18 escolas da zona metropolitana de Lisboa, mais quatro em Coimbra e outra em Gondomar. A ideia é conseguir contaminar o país e incluir todas as escolas assinaladas como problemáticas e de maior abandono escolar.

São as autarquias ou as juntas de freguesia que se inscrevem para que cada escola forme a sua própria orquestra e para que depois todos se encontrem na Orquestra Geração. Este modelo foi inspirado no El Sistema venezuelano, criado em 1975 pelo maestro economista José António Abreu, com o intuito de tirar crianças da pobreza com a ajuda de Mozart ou Vivaldi. O sucesso de El Sistema foi de tal ordem que neste momento conta com mais de 250 mil alunos e já pôs alguns dos alunos das escolas mais carenciadas da Venezuela a integrar grandes orquestras mundiais. Na prática, o sistema do ensino da música deste projeto baseia-se num método de aprendizagem muito simples de um instrumento, vendo o que o professor faz, copiando-lhe os gestos e confiando no ouvido sem ter de recorrer ao solfejo ou ao ensino da música tradicional, que rapidamente faria os alunos desistir.

Entre os países europeus, Portugal foi pioneiro a seguir o modelo do El Sistema, que entretanto tem-se vindo a espalhar e já conquistou 42 países da Europa: "Fazemos parte de uma rede de orquestras europeias de professores e alunos e muitas vezes somos consultados pelo sucesso que temos", diz-nos Wagner Diniz.

A Orquestra Geração conta com as câmaras municipais e vive fundamentalmente de mecenas: "Neste momento, o orçamento que temos não chega para renovar os instrumentos, pagar a logística envolvida nos concertos ou o ordenado dos maestros", enumera o mentor do projeto.

Pela primeira vez organizaram um concerto no qual se juntam ao empenho dos quase mil alunos do 1º e do 2º ciclo que formam a Geração, as sonoridades de consagrados como Mário Laginha, Rodrigo Leão, Camané, Celina Pereira ou Adriano Jordão que aderiram ao projeto, em nome da música que causa avalanches e faz revoluções.

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Música que causa avalanches e faz revoluções